segunda-feira, 1 de junho de 2009

Prazer

Um dia se cansou de sua vida. Não era a natural e entediante combinação trabalho e namorada que o incomodava. Gostava de ambos, pois era onde conseguia conforto, segurança, perspectiva, futuro e carinho. Mas estava cansado mesmo assim.

Mas nunca é fácil partir de uma hora para outra para a aventura. Aventura essa que nem sabia sobre o que seria, nem como, nem com quem. Não era fácil. Como começar uma coisa se não se sabe por onde?

Mas nem tudo é racional neste mundo. Ou melhor, as coisas mais importantes não são racionais. Aos poucos ligava menos para a namorada, ligava mais para o trabalho dizendo que não ia e abusava da paciência, para não mandar a namorada para longe e em sua diversão vespertina no computador do trabalho.

E assim o tempo passou e ficou calado. Sabia o que era melhor para sua vida. Sabia o caminho que devia seguir e tinha apoio de todos, mas lhe faltava alguma coisa. Até que em uma semana tudo aconteceu e todos passaram a compartilhar do cansaço com ele. De uma hora para outra, chefe e namorada, não necessariamente nessa ordem, o mandaram procurar o que lhe dava prazer (não diretamente, mas o “Eu não preciso mais de você” de ambos já queria dizer muita coisa).

Mas você acha que foi sair assim? Pulando de alegria gritando pela liberdade? Essas coisas não são assim! Tinha perdido todo conforto, segurança, perspectiva, futuro e carinho. Acabou, surpreendentemente, arrasado. “Só damos valor as coisas quando perdemos”. Foi mais ou menos assim. MAIS OU MENOS.

Nem se lembrava mais de seu cansaço e para agüentar a barra apelou para a saída tradicional. Ligou para seus amigos (dos quais havia se distanciado. “Ossos do ofício”) e combinou baladas e mais baladas. Não tinha vontade para muita coisa, mas se esforçava para fazer as coisas. O que mais podia fazer? Ficar trancafiado em casa só aumentava a angustia.

Saia, enchia a cara, se divertia com a molecada, tudo que havia tempos não fazia. Life can always start up anew. Mas lhe faltava algo e esse algo, de alguma forma ele sabia, não era o emprego/namorada. Mas o que era?

Começou a expandir. Ia a diferentes lugares, pegar tudo quanto é tipo de mulher, experimentou de tudo (sempre respeitando a Lei de Gil, claro), se entorpeceu com tudo que lhe foi possível, de sementes a paixões.

Mas a vida foi indo. Podia dizer que era a pessoa que mais se divertia no mundo, mas sempre tinha seus momentos. Fez coisas que nunca fez, esteve em situações que nem em filmes já colocaram (talvez em alguns pornôs) e tinha histórias para dar e vender. Seus netos o adorariam, se é que algum dia fosse ter algum (talvez por acidente, não o neto, mas o filho e uma coisa leva a outra).

Mas você ta ligado. Esse negócio de coisas muito intensas sempre é assim. Quando você quer encher a cara, você as vezes aposta em virar uma vodka, uma cachaça, tequila e afins. Mas como diriam, “Vem rápido e volta rápido”. Quando você aposta em uma coisa gradual, nem sempre você fica bêbado, mas as chances de vomitar e passar mal são menores. Tudo é questão de escolha e estratégia.

Com o tempo, não poderia ficar nessa de “praia e maconha em Fernão de Noronha” para sempre. Até queria, mas as coisas não são assim. De vez em quando dava um migué e mandava uns currículos. Não tinha grandes pretensões, mas uma coisa levou a outra, entrevista, o cara gostou de seu jeito despojado.

Mas o seu novo futuro chefe não foi o único. Apesar de não fazer questão de ser um ser humano descente quando o assunto era mulheres. Tá ligado como mulher é né? Trata mal e os caraio e elas curtem. Estilo cachorra. Daí uma ficou no pé dele. E você ta ligado né?

Era uma garantia de sexo constante. Não lhe prometeu fidelidade, continuava na bagunça e negava veementemente qualquer possibilidade de relacionamento. Mas quando você dá a mão, querem o braço. Aos poucos a moça estava cobrando um cinema antes de ir para a casa dele (ele não ia gastar dinheiro com motel com ela).

Depois ela estava indo para ver um filme na casa dele. Depois ela estava passando o final de semana, viajando com a família. E, para a sua surpresa (mas só sua, de ninguém mais), dentro de pouco tempo queria ficar com ela mais do que com qualquer uma.

Estava namorando.

Estava empregado.

Estava feliz. Podia dizer que era a pessoa mais feliz do mundo, mas tinha seus momentos. Dedicava-se com tudo ao trabalho. Tinha satisfação com o que fazia, com os projetos realizados, com os elogios dos superiores.

No tempo livre, só queria fazer uma coisa. Ficar com a namorada. Ganhou uma semana de folga no trabalho devido a um trabalho bem realizado. Ou seja, uma semana maravilhosa com seu amor. Amor? Amor.

Não queria muito ir para a balada. A diversa não é a mesma. Preferia cinema e restaurante, filme e pipoca, xixi e cama. Mas um dia aceitou a pressão, não podia esquecer os amigos. Não era uma festa como nos seus períodos de solteirisse, mas as mulheres pareciam a disposição como nunca nos seus momentos de solteirisse.

It’s a tricky game. “Se estivesse solteiro, agora seria melhor ainda”. Isso deu uma brochada em seu relacionamento. Não queria que acontecesse como da outra vez, deixar miar tudo, levar uma bota e ficar sofrendo. Decidiu dar um tempo.

Uhuuu! Festa!.. Maaas it’s a tricky. Num era bem como em sua cabeça. As garotas estavam lá, mas não funcionavam como oito meses atrás. Aquela desenvoltura, simpatia e assuntos de sobra estavam rareando. Não perdeu tempo, voltou para sua namorada. The safe place.

Estava novamente feliz, mas tinha seus momentos. Hoje em dia já se firmou com sua esposa, que aguarda seu primeiro filho. Tem uma casa, um carro, um bom emprego, almoço de domingo, e sempre que pode dá uma escapulida com um travesti que faz ponto de sua casa e passa as madrugadas tentando convencer um menor de idade a se exibir na webcam, seja menino ou menina.

Um comentário:

Tufex disse...

Ihhh krai, esse cara é viado!