quinta-feira, 8 de outubro de 2009

E71

Ultimamente eu ando com uma idéia fixa. Queria porque queria um celular novo. Desde que no dia do meu aniversário eu não soube lidar bem com a possibilidade de uma facada, eu estou com o antigo da minha irmã. O celular é uma tristeza, não carrega direito, os números da agenda somem e tem os botões pouco funcionais. Porém efetua e recebe ligações, que durante muito tempo foi o único pré-requisito para eu gostar de um modelo.

Hoje em dia existem facilidades na aquisição de um telemóvel, como dizem em Portugal. Abusei do programa de Pontos da Vivo, analisei meu orçamento e defini que queria porque queria um com conexão WiFi e 3G. Seria ótimo ter acesso ao Twitter, Orkut, MSN, Facebook, Wikipedia, Google Reader, Free Dictionary de qualquer lugar, a qualquer hora.

Comecei a pesquisar na internet. Utilizei do meu horário de trabalho para isso. Das 7h30 as 16h30 nem sempre tenho uma rotina muito puxada e, quando tenho afazeres rotineiros (como ligar para o gerente de um banco para perguntar onde estão os documentos da sogra do ouvinte que enviou uma reclamação para o programa Boca no Trombone da Radio Bandeirantes e descobrir que foi extraviado e ter que responder isso para o repórter mal educado ou selecionar as matérias do clipping diário ou escanear parte por parte do jornal e montar no Word pois os computadores de dez anos atrás da Nossa Caixa não possuem softwares adequados), eu evito ao máximo.

Portanto quando eu não estava travando uma batalha sem desistentes contra o acesso ao msn por meio do site do hotmail, que não permanece funcionando por mais de 6 minutos (todos os sites de redes sociais, programas de mensagens online e alguns blogs são devidamente bloqueados nesta estatal em que vos falo), estava pesquisando sobre modelos de aparelhos.

Gastei horas, dias (sem forçar a barra), até chegar ao que eu gostaria. Relação custo e benefício vantajosa e tudo mais. Mas não era simplesmente ir a loja e comprar e ou ligar para o atendimento e pedir. Por ser parte do programa de pontos e os celulares da minha casa estarem no nome da minha irmã (só o da minha irmã está no nome da minha mãe), a própria deveria entrar em contato para fazer o pedido.

Agora o próximo passo (de minha tara) era fazer com que minha irmã, que deu a luz a uma linda menininha (que eu não vi por mais de um segundo no dia seguinte ao parto e raramente perguntei sobre desde então) na última sexta-feira, deixasse de lado obrigações como alimentar a recém nascida ou dar atenção para seu primogênito, que provavelmente anda enciumado por não ser mais filho único (não sei se ele realmente está, pois não perguntei), e passar horas tentando ligar para a Vivo a fim de conseguir que eles me enviem o celular previamente escolhido, como ela havia sido instruída, e dividir a fatura em duas parcelas.

Não foi fácil. A Central de Atendimento Vivo andou deixando a desejar nos últimos dias e, com isso, seria necessária muita perseverança para conseguir o contato com sucesso. Esta perseverança necessitava de motivação e eu fiz minha parte por meio de minha mãe. Com cerca de cinco ligações diárias, instruía-a a entrar em contato com minha irmã a modo de pressioná-la para realizar a compra. (normalmente fazia essas ligações em minha uma hora de almoço, enquanto vago meio que sem rumo pelo centro de São Paulo procurando um bom lugar para sentar, sozinho, como todos os dias).

Finalmente minha irmã teve sucesso. Com dois dias de atraso, conseguiu arrumar um tempo em seus afazeres maternais e manter um contato bem sucedido com a Vivo. Deram um prazo de nove dias para que o aparelho seja entregue em minha residência. Até lá, terei que acessar Twitter, Orkut, MSN, Facebook, Wikipedia, Google Reader e Free Dictionary da escola, nas duas horas e meia que separa o momento em que eu chego a suas dependências vindo direto do trabalho até o início da aula.

Porém não pensem que fico o tempo todo na internet. Não senhore. Não tenho muito o que fazer na internet. No Orkut não há novidades faz uns bons dias. Em seguida entro no Twitter, onde geralmente não leio nada interessante e também não tenho muito a dizer. Tem o MSN, mas as pessoas online não me atraem, já que os poucos que se dirigem a minha pessoa querem saber como estou e eu não quero falar nem saber deles, e eu perdi a última pessoa que eu falava constantemente e com prazer recentemente (não. Ela não morreu). Wikipedia, Reader, Free Dictionary não há nada que eu realmente me interesse e queira saber.

Na escola eu normalmente fico esperando chegar alguém, ouvindo música. Penso em ver um filme lá, mas não sei fazer nada sozinho, e ler um livro estou com sono demais para me empenhar nesta atividade. Mas em cinema nem sempre as pessoas têm grandes afazeres à tarde, então elas chegam relativamente cedo (outros vêm direto do trabalho também).

Aí as coisas começam a mudar. Chega aquele cara legal, mas que as vezes está ocupado com outras coisas, depois chega aquela menininha pela qual você se interessa mais, depois chega mais um, mais outro, mais outro. Quando percebo já está uma turma e tanto, repleta de pessoas legais e interessantes, cheias de paixões.

A paixão maior, unanimemente, é o cinema. O fazer cinema, o assistir bons filmes, o falar de bons filmes. Com isso, os assuntos viram monotemáticos. Aquele viu todos os filmes do Trufault, o outro é fascinado por Kurosawa, o rapaz ali da ponta quer inscrever seu projeto em um edital e tenta descobrir como faz, e já fez filme, e tem dicas de como fazer um bom filme, sabe como o mundo funciona no mundo da sétima arte, e terminou o pré-projeto com três semanas de antecedência e tenta entender como você não está desesperado já que só tem uma semana para fazer o seu.

E eu fico lá, com meus Diego Souzas, Olimpíadas, Zelayas, meninas gostosinhas com tatuagem nas costas, empregos, festas, esperando a aula. Até as 19h30. Na classe, as imposições do MEC fizeram com que o professor bom que dava aula não venha mais e seja substituído por alguém nem tão bom e que está completamente perdido, pois não recebeu nenhuma instrução sobre o que é para falar para as cerca de 20 pessoas que estão sentadas lá ávidas pelo aprendizado de cinema.

Assim, a única coisa que me passa pela cabeça é a hora de ir embora. Frequentemente eu adianto este horário e ligo com antecedência para meu pai, atrapalhando seus afazeres, para que me busque na estação Alto do Ipiranga do metro. Não vejo a hora de chegar em casa, ligar meu computador e acessar Twitter, Orkut, MSN, Facebook, Wikipedia, Google Reader e Free Dictionary.

Não demoro muito nesses afazeres, logo resolvo ir dormir mais cedo para ter menos sono no dia seguinte (o que não funciona). Antes de ontem, adicionei o Skype a lista. Tive três conversas interessantes por meio dele desde então. Fui até xavecado e isso sempre é bom. Me empolguei um pouquinhozinho até. Ainda preciso achar outras coisas que me empolguem. Coisas essas que não deveriam ser um celular novo ou internet.