Depois de meses de estágio voluntário finalmente me surge a grande oportunidade: “Quer trabalhar na Federação Paulista de Futebol?”. Enfim um trabalho remunerado. Meu esforço seria a partir de então recompensado monetariamente e trabalhando em um lugar onde um sem número de pessoas do país do futebol gostaria de estar. Ter acesso a partidas de futebol, jogadores, dirigentes, técnicos e todos os que aparecem diariamente no diário esportivo de sua preferência.
Mas se passou mais de um ano e uma suspeita de início se confirmou. O esporte não pode ser minha vida. Nada contra o futebol, que me dá inúmeras alegrias e tristezas, mas contra a essência da minha concepção do jornalismo que quero fazer.
“Que bom que você trabalhar com esporte. É o que você sempre quis né?”. Na verdade não, mas não culpo quem me imagina desta forma. Boa parte dos rapazes que gostam de futebol e conversam de futebol querem um dia trabalhar com futebol. Não é o meu caso. O esporte muda a vida das pessoas. Tornar-se um grande atleta tira um sujeito da pobreza do dia para a noite e, neste contexto, brilhantes histórias com brilhantes personagens podem ser contadas (isto falando do jornalismo esportivo de qualidade que se interessa por histórias individuais e não somente pela frivolidade do dia-a-dia).
Porém apenas uma pequena porcentagem se torna protagonista destas histórias, outros milhões seguem como coadjuvantes. Contar a história e a problemática destes que normalmente são os coadjuvantes é o tipo de jornalismo que eu quero fazer.
Não exatamente dos que tentaram o esporte. Mas normalmente dos que tentaram a escola, que tentaram a criminalidade, que tentaram o emprego informal ou que não exige formação, os que tentaram mesmo sem grandes oportunidades e de uma forma ou de outra conseguiram algum tipo de “sucesso” profissional e pessoal. O lado social é o que me encanta.
Eu, filho de uma família bem estruturada, sempre tive a meu dispor, às custas do suor dos meus pais, as portas abertas para todo o tipo de oportunidade para que eu alcançasse a profissão que eu desejava. Tornei-me jornalista.
Diferente de mim, nem todos têm essas oportunidades. Boa parte de futuros bombeiros, escritores, astronautas, músicos e cientistas param no meio do caminho, ou antes mesmo de começar, pois inúmeros fatores os impedem de seguirem seus sonhos.
Cabe a mim trabalhar para que a sociedade, que me deu oportunidades e às tira de outros, reverta esta situação. Para que todos possam se tornar os bombeiros, escritores, astronautas, músicos e cientistas do futuro.
Mas como eu poderia fazer esta contribuição? Denunciando os males e tentando de alguma forma abrir os olhos da sociedade para todas suas “doenças”, mas que grande parte das vezes passam longe dos seus diagnósticos e quase ninguém fica sabendo até que entre em um caminho sem volta.
“Mas não é muita pretensão querer mudar o mundo todo?” Sim. Mas antes a pretensão que a omissão. Antes entrar em uma batalha cujo objetivo é difícil de conseguir a desistir antes de dar o primeiro passo. Até porque, se nessa luta você consegue mudar o rumo de uma pessoa, você já começa a ganhar essa guerra.
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Este texto foi escrito para a inscrição no Curso Abril de Jornalismo.
Sem palavras