terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Féria Forçadas de Verão

Aquele dia não choveu. O aguaceiro tradicional de todo final de tarde de verão em São Paulo deu uma trégua. Lá dentro, o que reinava era o ventilador ligado ao máximo, transformando tudo em peso de papel. Eles impediam que as folhas voassem pela redação. Era o marasmo de uma sexta-feira, 10 de dezembro de 2010, pós-fechamento da revista. A ansiedade perante ao “nada para fazer” era a espera pelas 18h, nem um minuto a mais. Hora de curtir a “saideira” com os amigos da editora no bar em frente ao trabalho.

Em um rompante, sorriso de canto da boca, ela entra na sala e quebra o ritmo do dia. “Preciso falar com os dois”. Dirigiu-se ao casal formado por colegas de trabalho, que quando estavam lá fora namoravam, mas fingiam quando estavam lá dentro. Fui o primeiro. Segundos depois retornei, bradando para todos da redação as novidades que já eram esperadas por mim (mas que nunca cheguei a acreditar piamente).

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Essa história começou muito tempo antes, na data que marca o início do que considero minha vida adulta. 13 de março de 2009, o dia em que retornei de minha despedida de minha meninice, vivido em terras irlandesas. Sem emprego, namorada, ou perspectivas, cheguei à casa de minha mãe disposto a virar um jornalista. Passaram-se seis meses até que encontrei o primeiro trabalho. Não era a ocupação dos meus sonhos, mas o salário era melhor do que poderia imaginar. Marcado como o emprego mais chato da história da humanidade, o cargo de assessor de imprensa de um finado banco do estado de São Paulo não foi muito longe.

Logo, de uma entrevista despretensiosa, e em minha concepção mal sucedida, saiu o emprego em uma editora. Revista mensal. Estava feliz da vida, apesar dos avisos de que o paraíso era longe dali. Mas era o que eu procurava. A chance de fazer o que gosto. Escrever, apurar, pensar no texto, ser publicado. A alegria era complementada pelos amigos, chance de voltar a morar sozinho, além do amor que lá encontrei. Aos poucos fui vendo que o paraíso realmente não existe.

Os “poréns” foram muitos. Pautas vendidas, salário baixo (o salário caiu com o emprego melhor), falta de comando. Não havia mais desafios, mais aprendizado. O que não fazia sentido era por mim questionado. O que não estava certo, era discordado. A relação desgastou.

Quando o time não ganha, demite-se o técnico. Desde meus primeiros passos na revista, me alertaram sobre a falta do bom futebol. Entravam e saiam jogadores, alguns esforçados e talentosos, mas o time seguia decepcionando. Novamente era preciso mudar alguma coisa.

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Com o sol preguiçoso do horário de verão, o happy hour daquele dia era especial. Era despedida de um amigo que partiu dessa para uma melhor (emprego, no caso). As palavras da chefe mudou um pouco o rumo da noite. “Estamos reformulando a revista. A experiência com freelas está dando certo, e vamos intensificar o ano que vem”. Agora era a despedida do casal também.

Por maior que seja a vontade de mudar, quando tomam a iniciativa por você nunca é legal. Mas “Deus dá o frio conforme o cobertor”. Como bom ateu que sou, preferi me agarrar a essas palavras. O clima melancólico, diluído por subsequentes copos de cerveja, se fundiu ao clima de confraternização. Uma alegria enviesada tomou conta da dupla e durou até o torpor final.

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Segunda-feira, enquanto os antigos colegas seguiam a extenuada rotina de fim de ano, reservei a manhã do meio-dia para limpar a casa. Os afazeres domésticos foram sucedidos pelo “Tropa de Elite 2” no cinema com a namorada e finalmente a aula de pós-graduação e uma cerveja final para fechar a noite.

A vida é realmente boa quando não se tem nada pra fazer nem hora para acordar. É dezembro, véspera de natal, época das merecidas férias que já haviam vencido. É como diria a Vodafone: “Make the most of now”. Mas quanto rende a rescisão? E o aluguel? Dá para aproveitar ao máximo sem ver minguar a conta bancária?

Ainda é o primeiro dia oficial de desemprego. São 1h36 da manhã e está na hora de meu Villarreal, que está subindo de produção após as contratações de Michael Owen e Giampetro Rossi, se movimentar. O time vem bem na Copa da Uefa. Meu play3 e o W11 me esperam. O irresoluto amanhã também.