segunda-feira, 4 de junho de 2007

Desisto. Culpa. Futuro

Escrever. Lá vou eu para um post metalingüístico,.assim como o segundo deste blog: a introdução. É complicado escrever, principalmente para quem gosta. Para quem não gosta este é um trabalho árduo e chato, mas acaba saindo. Para quem gosta a tarefa é, às vezes, dolorosa.

Desisto.

A culpa:

A culpa por tudo que acontece no mundo é sua. E minha também. É isso.

Futuro:

Eu poderia utilizar este espaço negro com letras brancas (isso quando você lê, porque quando eu escrevo é no fundo branco em uma moldura bege insossa) (na verdade eu escrevo no Word e depois passo para a tela bege e insossa, mas o Word você sabe como é) para escrever meus planos de futuro. Tudo que eu sempre quis fazer e nunca fiz. Todos os planos a curto, médio e longo prazo. Como eu me vejo daqui a uma semana, um mês, um ano, uma década.

E lá vou eu:

1 dia:

Nesta terça-feira (05/06/07 – seqüência legal né?) a minha maior expectativa é quanto ao jogo do Brasil. Esta expectativa é reflexo da minha comum e rotineira e trivial rotina “em um exercício monótono, monotemático, monoteísta da minha vida” (parafraseando você não sabe quem.. ou sabe.. é fácil descobrir).

É, de resto, meu plano para a terça-feira é ir na faculdade como na maioria dos dias e, como na maioria dos dias da minha vida em que eu vou na faculdade, sem saber muito bem se terei algo a fazer.

Também tenho uma obrigação. Quem disse que não? Tenho que devolver a biblioteca o livro: “Manicômios, prisões e conventos”, de Erving Goffman. Escrito em 1961, este livro é resultado da experiência do autor no período em que foi membro visitante do Laboratório de Estudos Sócio-Ambiêntais do Instituto Nacional de Saúde em Bethesda, Maryland, EUA, do outono de 1954 ao fim de 1957. Durante parte deste período, nosso querido Goffman (procurei no dicionário e a palavra Goff não existe, mas sim Guff. Conversa fiada. Então, pressupõe-se que o conteúdo do livro não vai muito longe disso. Ou não) estudou o comportamento de cerca de 7000 internos do Hospital St. Elizabeths, Washington, D.C. O objetivo era observar o “mundo subjetivamente vivido” pelo internado.

Minha relação para com esse livro era ler o primeiro capitulo: As Características das Instituições Totais. Segundo o autor, instituições totais são aquelas que compõe nossa sociedade ocidental (do lado de lá do mundo é outros 500) se caracterizam pelo seu fechamento “ou seu caráter simbolizado pela barreira a relação social com ou mundo externo e por proibições À saída que muitas vezes estão incluídas no esquema físico – por exemplo, portas fechadas, paredes altas, arame farpado, fossos, água, florestas e pântanos.” (Vejam que este livro é velho, não deve mais existir pântanos que protegem nada. Não existem mais muitos pântanos. Estão secos, aquecimento global, ta ligado né?).

Então, precisava ler este livro, pois ele poderia me acrescentar no meu trabalho de conclusão de curso, que é sobre pessoas que deixam um exemplo destas instituições totais: as penitenciarias. O livro me foi sugerido para que eu conhecesse a realidade de quem vive em uma instituição fechada como essa e de que forma ela é afetada com essa estadia pelo local.

Apesar de bem antigo, a obra se mostra bastante atual, trazendo conceitos que eu julgo deveras interessante e importante para meu aprofundamento teórico prévio a realização do trabalho, cujo nome foi brilhantemente definido por “Livre das grades, refém da cidade”.

“Os participantes da equipe dirigente tendem a sentir-se superiores e corretos; os internados tendem, pelo menos sob alguns aspectos, a sentir-se inferiores, fracos, censuráveis e culpados”. Com o tempo você vai entendendo os motivos para a existência de instituições organizadas que existem para defender o direito e o bem-estar dos presidiários, como o Primeiro Comando da Capital.

Outro: “Aparentemente, as instituições totais não substituem algo já formado pela sua (do interno) específica; estamos diante de algo mais limitado do que aculturação ou assimilação. Se ocorre mudança cultural, talvez se refira ao afastamento de algumas oportunidades de comportamento e ao fracasso para acompanhar mudanças sociais recentes no mundo externo. Por isso, se a estada do internado é muito longa, pode ocorrer, caso ele volte para o mundo exterior, o que foi denominado ‘desculturamento’ – isto é, ‘destreinamento’ (igual o Ramelão falava) – que o torna temporariamente incapaz de enfrentar alguns aspectos da vida diária”. E, depois de 30 anos confinado em uma cela com 30 homens suados, exige-se que o sujeito saia, arrume emprego e compre uma casa, constitua família e seja feliz para sempre e siga a risca o “American way of life”.

Outros pontos muito interessantes, que poderiam engrandecer em muito meu trabalho e, porque não, meu desenvolvimento pessoal, são apresentados neste livro. Eu digo poderia, pois, no lugar de me dedicar a leitura, eu passei meus finais de noite jogando “Chanpionship Manager” e levando o Palmeiras virtual ao virtual título da Libertadores e da Copa do Brasil, mas nunca conseguindo manter a regularidade na campanha virtual do Campeonato Brasileiro virtual e no Campeonato Paulista virtual, o que gerou a insatisfação do meu virtual presidente Mustafá Contursi e minha posterior demissão. Mas tem nada não, é só fazer o virtual (CENSURADO) abandonar a carreira de treinador virtual e criar outro (CENSURADO) virtual e escolher o Palmeiras virtual para iniciar a carreira de treinador virtual.

A terça-feira (05/06/07) é mais longa do que vocês imaginam. Findo o período de aula, enrolarei até o momento de minha alimentação do final de manhã. Não sei se é almoço, pois 11h30 em um mundo ideal será momento de tomar café da manhã. (Na verdade acho que aí está minha felicidade profissional: tomar café da manhã às 11h30). Então, sigo sozinho ou acompanhado por (CENSURADO) ao Vermelhinho ou ao Centro de Convivência. Lá solicito que me tragam um filé de frango à parmegiana, panquecas ou uma lasanha. Após uma refeição com pouca conversa, seja sozinho ou acompanhado, aguardo mais um tempo até o momento de minha carona chegar e partir rumo ao meu local de trabalho de todos os dias das 13h às 19h.

O caminho para o trabalho sempre me reserva surpresas. O programa escolhido no rádio, as notícias sem assunto do “Lance” e as interessantes conversas, tão sem assunto quanto, entre duas garotas que apanham o mesmo carro que minha pessoa para seguir a trabalhos diferentes do meu. Entre estas surpresas, tento me concentrar em dormir durante estes aproximados 43 minutos. Porém quanto maior a concentração, mais o sono se afasta.

O carro chega já com dois passageiros a menos. As garotas ficaram pelo caminho e (CENSURADO), minha pessoa e, às vezes, (CENSURADO) adentramos o prédio do órgão máximo do futebol paulista, a gloriosa Federação Paulista de Futebol. Local da organização do principal campeonato estadual do país, (CENSURADO) que não poderei comprovar a real existência delas (mas que existem, existem).

E, enfim, cerca de 13h20 (sempre com alguns minutos de atraso) eu me apresento ao trabalho. A partir deste momento eu estou sujeito às ordens de (CENSURADO), qualquer pessoa contratada legalmente, e, principalmente, (CENSURADO) (um dia eu perco meu post discorrendo sobre esta pessoa, digamos assim, impar).

Mas não pense que estou tão por baixo. Não senhor(a). Tenho subalternos, como não? 21 anos e cinco subalternos. Subalternos estes que não respeitam esta hierarquia e confundem amizade e trabalho. Mas sou brasileiro, dou meu jeitinho e creio que efetuo meu repetitivo trabalho “tentando reordenar as tarefas que nunca precisarei desempenhar”. Mas me dou bem, como não? Ou não. O que é se dar bem para você?

Esta função se estende até às 19h, alguns minutos a menos ou mais. Após isto, sigo de volta ao meu lar cheio de planos do que vou fazer. “Vou ler, escrever, fazer acontecer”. Isso ainda a frente do Terminal Barra Funda. Passado todo o trajeto. Já nas proximidades do meu lar: “Já sei, vou vender o Felipe, ele está insatisfeito e é a laranja podre. Tenho substitutos”.

Já no meu lar, como um delicioso jantar preparado pela senhora (CENSURADO) e me mantenho em meu quarto. Verifico e-mails, poucos interessantes. Verifico o Orkut, nada novo. Sigo em frente ao PC, Windows Explorer, Programas, CM, Championship Manager, fim do dia.

Se alguém me perguntasse em uma entrevista de emprego, como eu me vejo amanhã. Seria exatamente assim que eu pensaria em responder, mas acabaria dizendo: “Eu leio bastante, jornal e livros, adoro ver filmes, mas passo maior parte do tempo me dedicando aos projetos da faculdade e dando o melhor de mim no trabalho”.

Isso porque vocês não ouviram os planos para as semanas, anos, décadas....

3 comentários:

Débora Costa e Silva disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Débora Costa e Silva disse...

Desiste do quê?
Culpa do quê?
Eu simplesmente não existo
Adorei (pra não dizer que amei e você dizer que eu amo tudo) sua praticamente dissertação sobre o lance dos presidiários. Adorei isso: "E, depois de 30 anos confinado em uma cela com 30 homens suados, exige-se que o sujeito saia, arrume emprego e compre uma casa, constitua família e seja feliz para sempre e siga a risca o “American way of life”."
Seu blog sabe mais sobre sua vida do que sua namorada.
Mas sua namorada te ama mais que seu blog, a FPF e todo mundo que aparecer por aí.
Gosto do que você escreve. BOM BOM!(pra não dizer muito bom, senão vai pensar que é marmelada)

Débora Costa e Silva disse...

Ah! E o principal:
DEPOIS VEM VOCÊ ME DIZER SOBRE PRIVACIDADE.....como pode ser tão cara de pau???
ahhahahahahahah