terça-feira, 17 de julho de 2007

'Parâmetros problemáticos sem solucionáticos'

Só uma revolução muda esta porra toda.

Eu explico.

Hoje, 17/07/2007, um avião da TAM derrapou no Aeroporto de Congonhas e depois de uma série de tentativas frustradas do piloto, bateu em um prédio da própria TAM e explodiu tudo. Morreu todo mundo.

Eu não sei quanto um prédio custa nem quanto um avião custa nem a vida de um monte de pessoas custa. Mas, deixando as pessoas de lado. Deixando a tragédia de lado. Vou explicar porque só uma revolução muda essa porra toda. E não é a crise aérea deste país, mas a crise social deste país e do mundo (ou do mundo não, pois em cada canto, cada país vive seu ‘parâmetro problemático sem solucionático’ especifico).

Dia 22/03/2007, uma quarta-feira chuvosa, um avião da BRA derrapou em uma das pistas do Aeroporto de Congonhas e a Infraero disse: “chega”. A pista foi interditada para ser submetida a algumas reformas para diminuir as derrapagens (tinha sido a quarta). No dia 29 de junho a obra ficou pronta, mas (sempre tem um ‘mas”) não ficou tudo pronto. O serviço de grooving, que são ranhuras na pista e servem justamente para aumentar a aderência dos pneus das aeronaves, ainda não foi feito.

Pelo aeroporto de Congonhas passam 80% dos vôos no Brasil e por ali circulam diariamente 47 mil passageiros. Sua importância é estratégica, seja em conexões, escalas ou pousos e decolagens. “Pera aí. Estamos perdendo muito dinheiro. Não dá”, pensou o pessoal da TAM e de outras empresas aéreas. “Libera logo essa porra”, completou.

“Tá firmão”, respondeu a Infraero. Mas para a imprensa respondeu: “por ser o período de inverno e tempo seco, não haveria problemas com a falta do grooving, que só deverá ficar pronto no fim de setembro”.

Pois é. Está chovendo desde domingo. Estamos em julho, logo, setembro está longe. Essa garoa chata intercala com momentos de chuva forte causando estranhamento para a população paulistana. Causou também a derrapagem de um avião da TAM, que, depois de uma série de tentativas frustradas do piloto, bateu em um prédio da própria TAM e explodiu tudo. Morreu todo mundo.

Irônico né?

Mas não vou entrar no mérito das quase duzentas pessoas que morreram. Vivo em um mundo capitalista e vou pensar com essa cabeça. Nessas horas que eu percebo que a nossa querida Rosa Luxemburgo (andei lendo) tinha razão. O capitalismo cria suas próprias crises, o que o torna um sistema insustentável.

Falta explicação né? Aqui vou eu.

Ninguém quer perder dinheiro. “Nem eu que sou bobo” (diz a frase popular). Nem eu que estou escrevendo um texto pretensiosamente anti-capitalista. Nem nosso querido Ernesto gostaria de perder dinheiro. A TAM também não queria. Apressou tudo, junto com as outras. “Estamos perdendo passageiros. Essa crise está nos fazendo perder passageiros. É grana no bolso indo embora. Abre logo essa pista”. Ninguém contava que ia derrapar. Ninguém contava que ia explodir. Mas explodiu.

“Que prejuízo heim rapaz”.
Pois é.

Eu não sei quanto custa um avião nem quanto custa um prédio (também não sei quanto custa as vidas nem o sofrimento das famílias nem todo o resto), mas eu sei que não é barato. Eu sei que no final, capitalisticamente (me dou a liberdade de criar palavras), o dono da TAM não está feliz na noite desta terça-feira fria e, infelizmente, chuvosa, afinal, um prédio e um avião traz prejuízo maior que o do atraso das obras da pista, sem contar as indenizações. “Ô dor de cabeça”.

(Deixando bem claro que o dono da TAM é só um personagem. Poderia ser qualquer outro de qualquer outra empresa grande deste país [já que meu foco é este país]. Nem sei quem é o arrombado do dono da TAM nem minha curiosidade pesquisatória me levou a procurar).

Está constatação é bem comum diante de tragédias. Mas posso lembrá-los de episódios que freqüentaram nosso recente noticiário e remetem a situações de cunho semelhante. (A semelhança principal é de que está tudo errado).

Alguns rapazes deixam uma festa (ou um boteco, balada, qualquer coisa) e estão passando de carro:

“Olha, uma puta”.
“HAHAHA”.
“Vamos zoar ela?”
“VAMO”.

Os quatro descem do carro:

“Sua puta”.
“...”
Um empurrão
“...”
“Vamos roubar a bolsa dela”.
“Só”
“Não!!! Larga!!!”
Um soco, um chute, outros golpes, bolsa roubada.

Já no carro:

“Puta mano, machucamos ela!”
“Foda-se. É puta mesmo, pega nada”
“Mas, mano, você não comeu uma a semana passada”
“Tem que comer e bater mesmo. Elas gostam”
“E se ela chamar a polícia?”
“Chama nada. É puta. Pega nada”
“É pega nada”

Ih. Dessa vez, estes jovens deram azar e bota azar nisso. Não era puta. Era uma empregada saindo cedo para ir ao médico. “Mas desde quando bater em pobre tem problema?”. Um taxista viu e anotou a placa. Dia seguinte: “Se fudeu playboy. É Cana”.

Todos presos (ou quase todos). “Meu filho é uma criança, não posso misturar ele com bandido?”.

Este é o ponto.

Definição de ‘bandido’:

Roubou para comprar comida – ‘bandido’
Roubou o relógio do seu filho usando um canivete – ‘bandido’
Traficou drogas – ‘bandido’
Foi roubar uma padaria, pensou que o caixa ia reagir, atirou e matou – ‘bandido’

Definição de ‘Menino que não sabe o que faz’:
Bater em pessoas indefesas na rua – ‘menino que não sabe o que faz’
Roubar uma câmera digital de um colega dentro de um colégio particular bem caro – ‘menino que não sabe o que faz’


A verdade é que dentro de uma prisão, dentro de uma cadeia, existem pessoas com o “grau de bandidagem” bem menores do que o dos quatro garotos.

“Ahh.. vai dizer que quem rouba e mata é melhor que esses que bateram?!?!”

Vou

Ou melhor. Não digo melhor ou pior. O problema é a natureza da ação.

Eu sou um jovem. Tenho 18 anos recém-completados.

“Vamos fazer um rolé gringo hoje?”
“Pô. Nem tenho grana”
“Vai todo mundo”
“Nem tenho grana”

Pá. Seqüestro relâmpago. “Já era playboy”. Arrumei cem conto, vou para a festa. Antes de chegar. “O neguinho” (meu tom de pele é até que claro, sou mais claro que o Ronaldinho, e ele não se diz negro). “O neguinho, sujou para você. CANA”. ‘Bandido’

Eu sou o tipo de cara que o pai do nosso ‘menino garoto que não sabe o que faz’ não quer convivendo no mesmo ambiente que seu filho.


Posso dar mil exemplos. Posso dar mil situações onde a pressão social fez um rapaz deixar de lado o que sua humilde mãe lhe ensinou (todos têm sua “Dona Ana”) e apostar no atalho para conseguir o que queria. Seja um tênis, uma namorada, um carro, um status, uma balada, um relógio, um celular, outra arma, mais amigos...

Qualquer atalho para atingir o objeto de desejo não é pacificamente aceitável, mas é justificável. Dá para enxergar com outros olhos, que não o do andar de cima da pirâmide social. Sem o ‘eles’ e o ‘a gente’.

“Mas, olha quanta gente consegue fugir do nada e ficar rico, ser importante”.

É verdade. Mas você não pode julgar, porque você não sabe como reagiria. (Eu digo você porque qualquer pessoa que tem a oportunidade de perder tanto tempo lendo um blog na Internet tem mais oportunidades de não precisar do ‘atalho’ que as pessoas em questão)

Mas voltando a nossos quatro ‘bom vivant’. Na natureza da ação, estes são simplesmente maldosos e tem um coração ruim. Não dá para entender nem justificar a ação deles. Ao contrario da turma dos sem-oportunidades-que-buscam-um-caminho-para-se-inserir-ao-capitalismo, cujas motivações são bem claras. Ninguém gosta de ser ‘bandido’ muito menos de ser bandido.

Com certeza você concorda comigo.

Mas, dos dois, quem vai sair primeiro da prisão? Mesmo que o juiz de pena igual para o ‘menino que não sabe o que faz’ e para o ‘bandido’. Quem sai depois de dois dias?

Lembra dos ‘meninos não sabem o que fazem’ de Brasília, que já não sabiam o que faziam há muito tempo e colocaram fogo em um índio. O que aconteceu com eles. (refrescando sua memória: http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2007/07/387617.shtml)

“Não pega nada”

“Mas e o nosso presidente? Eu não gosto dele, mas ele é um nordestino, ex-metalúrgico, ex-sindicalista, ex-socialista, que chegou à presidência do Brasil mesmo sem ter um dedo.”

É pessoal. Chegou. Louvável. Eu não votei nele. Não. Na eleição eu não tinha título de eleitor, na reeleição mudei de opinião dias antes. Mas a trajetória é louvável. (Mesmo o dedinho não sendo um dos dedos mais importantes. Queria ver ele chegar aonde chegou sem o polegar opositor).

Eu torci para dar certo (ainda torço). E em muitos aspectos deu. Em muitos aspectos o “nunca na história deste país” dele é verdade. Mas todos os crimes de que ele é culpado (disse culpado, então mensalão, mensalinho, sanguessuga e todo o resto não contam) comprovam minha tese.

Ao ler que nosso querido Luiz Inácio Lula da Silva fez aliança com o PMDB, apóia nossos não menos queridos Maluf, Collor, Severinos, Calheiros. Ao ver que em seu governo “nunca na história desse país” os bancos privados lucraram tanto, “nunca na história desse país” o número de pessoas milionárias cresceu tanto...

Tendo em vista tudo isso aí, que conclusão que eu chego?

Só uma revolução muda esta porra toda.

Explicado? Não né?

Ps.: Ao fim das investigações, CPI’s e tudo mais, sabem quem vai ser o culpado do acidente do avião da TAM? O piloto. Tá morto mesmo. Quem são os culpados pelo acidente da Gol que desencadeou toda a crise aérea que dura até hoje? Os pilotos americanos. São americanos mesmo, estão lá longe e nem vão se dar ao luxo de se defender. Eles vão ficar no país deles, onde são heróis por terem conseguido evitar a queda do avião portando carne de primeira: mais americanos.

5 comentários:

Felipe Floresti disse...

Um desafio é encontrar citações a outras obras implícitas no texto.

Débora Costa e Silva disse...

Assino embaixo!
Eu diria que é um manifesto, tem muita coisa aí, mas como você mesmo disse, tudo se encaixa na categoria do "tá tudo errado"!
E tá mesmo! Hoje tive a sensação de "fim do mundo", quando ouvi no rádio que um avião de manhã derrapou e invadiu o gramado...e logo em seguida que o trânsito na Marginal do Rio Pinheiros foi recorde, porque a Polícia fechou tudo pra tentar ir atrás de uma carreta e os carros que a acobertavam na fuga (??)...
Cena de caos em diversos pontos da cidade...só faria sentido mesmo terminar o dia com uma explosão dessas! E o pior: parece ser apenas o começo de muitas explosões...a diferença é que essa salta aos olhos. Por aí, nos mundos dos "bandidos", as explosões acontecem a todo minuto...quem sabe um dia alguém mais vê?

Unknown disse...

ho ho ho
de repente, durante os escassos minutos que tenho para 'surfar' na secretaria, encontro o blog da debora vacilando na barra de endereços...e de repente, o seu...

"ja era, perdeu playboy"
achei

Débora Costa e Silva disse...

N�o � poss�vel!
Esse tal de Galeano � seu f� Ele te persegue mano!

Gabriel Bertolim disse...

E ai Fera, como vai de Férias? Ah, por essa vc não esperava!
Bota pra fora cara! Bota mesmo, pq se não botar, eles botam no nosso cú! Sabe né? "Eles".
Bem legal seu blog, principalmente para quem te conhece! Dá até pra imaginar sua cara contando esse papo!

Abraço!